PRATA DA CASAConheça a trajetória de alguns professores do Cursinho da Poli que foram alunos, entraram na USP e retornaram para dar aulas

"O bom filho à casa torna", diz o ditado. Uma conversa com o corpo docente do Cursinho da Poli revela que muitos bons filhos voltaram ao local onde, há alguns anos, eram estudantes se preparando para os vestibulares. Conheça a história de alguns professores do CP que já foram nossos alunos, ingressaram na Universidade de São Paulo e retornaram como profissionais.

Edson Bilau

Edson Bilau O professor de Matemática Edson Bilau é um dos integrantes da Banda dos Professores do Cursinho da Poli

Um ótimo exemplo é o do professor de Matemática Edson Ferreira, ou melhor, Edson "Bilau". No ano 2000, ele era proprietário de uma pastelaria, mas estava cansado da vida de comerciante. Decidido a ingressar numa universidade, Edson Bilau precisava, primeiro, recuperar a deficiência de 18 anos sem estudar. "Minha família disse que eu estava louco, que eu não ia conseguir". Ainda que a USP lhe parecesse um sonho distante, resolveu tentar e se matriculou no Cursinho da Poli. Edson não podia desperdiçar aquele ano de preparação, e utilizou todo seu tempo disponível para estudar. "Estudei muito. Muito. Muito! Até sonhava com as matérias. Estudei até a meia-noite da virada do ano-novo". E o esforço foi recompensado: ele passou em Matemática na USP. Retornou ao Cursinho já no ano seguinte como plantonista, mas era chamado de "professor" pelos colegas, bem mais jovens do que ele.

E se hoje o professor Edson Bilau comanda com tranquilidade suas aulas, ele lembra que passou um sufoco quando precisou substituir um professor e, de tão nervoso, errou a explicação de um exercício três vezes: "Eu falei: ‘Pessoal, estou meio nervoso, sou plantonista e estou quebrando um galho’", conta, rindo. "Depois peguei o jeito". E pegou mesmo: Edson ficou quatro anos no Plantão de Dúvidas e foi efetivado logo após o fim de seu período de estágio. Guitarrista da Banda dos Professores do CP, Edson Bilau é um dos docentes mais queridos dos alunos, e agradece ao Cursinho por sua trajetória profissional: "Eu tinha 36 anos e consegui entrar na USP. Procuro passar isso para os alunos, mostrar que é possível. E foi legal tudo o que passei porque hoje dou muito valor. Me surpreendo a cada dia com a profissão de professor".

Professor Elias

Elias Feitosa O professor de História e coordenador cultural do Cursinho da Poli Elias Feitosa orienta os alunos no passeio pelo Centro Histórico de São Paulo

Elias Feitosa de Amorim Jr. é hoje coordenador cultural e professor de História do CP, mas foi nosso aluno em 1997, quando as aulas ainda aconteciam dentro da USP. Naquela época, para entrar no Cursinho da Poli, era necessário ser aprovado num vestibulinho e numa avaliação socioeconômica. "Uma lenda urbana dizia que era tão difícil passar na prova do Cursinho da Poli que quem conseguia já estava com a aprovação na USP garantida", brinca. Após duas tentativas de entrar em Medicina na Universidade de São Paulo, Elias se matriculou no CP, fez uma autoavaliação e percebeu que seu caminho seria História. Não deu outra: foi a aprovado no final de 1997.

No ano seguinte, voltou ao CP como plantonista, montou grupos de estudo e inaugurou seus passeios pelo centro histórico de São Paulo e seu curso de História da Arte (atividades que realiza até hoje). Foi também em seu primeiro ano no Plantão de Dúvidas que ele começou a substituir esporadicamente professores que não podiam comparecer, já pegando o jeito para dar aulas. Em 2000, quando o Cursinho da Poli iniciou o projeto de expansão, passando de 800 para 8000 alunos, Elias foi efetivado como professor e, em 2007, também adotou a coordenação cultural do CP. Ou seja: desde 1997, Elias Feitosa está envolvido com o Cursinho da Poli. "É estranho eu não pensar no Cursinho, ele faz parte da minha vida. Hoje, tenho alunos formados, que encontro em diversos lugares e que me agradecem pelas aulas. É gratificante!".

Professor Edu

Professor Edu "Ser professor é estabelecer uma relação de amor com os alunos, porque você lida com sonhos" – Professor Edu

"Eu sou a cara do aluno do Cursinho da Poli", conta Eduardo Izidoro Costa. É mesmo: oriundo de escola pública, Edu decidiu que queria entrar numa universidade pública mesmo após ficar 11 anos sem estudar. Em 1999, matriculou-se no CP pretendendo prestar para Engenharia na USP, mas desistiu quando descobriu que o curso era em período integral, o que o impediria de trabalhar: "Eu já estava com 28 anos, não tinha quem me sustentasse", explica Edu, que optou por fazer Matemática, então.

Aprovado na USP, Edu voltou ao Cursinho em busca de emprego. Após trabalhar um mês distribuindo panfletos de divulgação do CP, foi chamado para trabalhar no Plantão de Dúvidas, onde se descobriu como professor: "No momento em que eu me sentei na cadeira do Plantão, decidi que não queria ser outra coisa na minha vida. Ser professor é estabelecer uma relação de amor com os alunos, porque você lida com sonhos", explica. E é por isso que o professor Edu se inspira para transformar suas aulas de Matemática em algo prazeroso de assistir – afinal, ele sabe que muitos de seus alunos enfrentam todo tipo de adversidade que ele também enfrentou e venceu. Edu faz questão de repetir: "Eu sou a cara do aluno do Cursinho da Poli!".

Fernando Rodrigues

Fernando Rodrigues O professor de Geopolítica Fernando Rodrigues participou da resolução da Fuvest / Unicamp na TV iG

Quando criança, Fernando Rodrigues andava de bicicleta pelas dependências da USP, mas nunca pensou que poderia alcançá-la como aluno. Em 1998, entrou no Cursinho da Poli para tentar uma vaga na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, que também utiliza a Fuvest como processo seletivo. Fernando descobriu, no entanto, que sua área seria História, e conseguiu ingressar na FFLCH-USP em 2001.

O estágio como plantonista do Cursinho em 2003 ajudou-o em sua preparação para tornar-se professor: foi ali que adquiriu experiências e repertório para trabalhar em sala de aula. "Aprendi a valorizar o conhecimento. A equipe de professores do CP me mostrou que ter sede de aprender não era depreciativo, e sim um sintoma característico de pessoas que almejam a transformação da realidade por meio do conhecimento", conta Fernando. O Cursinho da Poli não mudou apenas a vida intelectual do professor de Geopolítica e História Geral, mas também a amorosa: "Além de ser bom para passar na USP, o Cursinho também é ‘santo casamenteiro’: entrei solteiro e saí casado!", brinca Fernando, que conheceu sua esposa – a professora Thaís Oliveira – quando era plantonista.

Daniel Rizzo

Daniel Rizzo Daniel Rizzo é o responsável pela venda do Sistema de Ensino do Cursinho da Poli

Parece que o Cursinho da Poli é mesmo "santo casamenteiro": o responsável pela venda do Sistema de Ensino do CP, Daniel Rizzo, também conheceu sua esposa pelos corredores do Cursinho, quando ele era funcionário e ela, aluna. Em busca de sua vaga na USP, Daniel se matriculou no CP em 1998 e, além de estudar, passou a ajudar voluntariamente o responsável pelas atividades culturais que aconteciam no Cursinho. Mesmo com a aprovação para o curso de História na USP e trabalhando numa agência bancária, em 1999, Daniel não abandonou o Cursinho da Poli: nas duas horas de intervalo que ele tinha entre o trabalho e os estudos na universidade, ele passava no Cursinho para coordenar o cineclube. Voluntariamente!

No ano 2000, com a expansão do Cursinho da Poli, Daniel recebeu o convite para coordenar a Central de Cultura, setor recém-criado. Sem pensar duas vezes, o aluno de História abandonou o setor bancário e se tornou oficialmente funcionário do Cursinho da Poli. Em 2006, por sua familiaridade com a estrutura pedagógica do CP, Daniel saiu da Central de Cultura para comandar o departamento responsável pela venda do Sistema de Ensino do Cursinho da Poli para as escolas públicas e particulares. Além de conhecer sua esposa, entrar na USP e mudar de profissão, Daniel encontrou no CP a chance de ter contato com pessoas de todas as classes sociais, o que mudou sua visão de mundo: "O Cursinho me transformou bastante. Não havia tido contato com projetos sociais anteriormente, e conhecer pessoas que não tinham dinheiro nem sequer para pegar ônibus me motivou a ajudar como voluntário. Pensei: ‘Quero fazer parte disto’".

Rafael Gimenes

Daniel Rizzo "Nunca imaginei estudar na USP, e o Cursinho da Poli me mostrou que era possível", conta Rafael Gimenes, agora professor de Matemática do CP.

Antes de se tornar professor de Matemática, Rafael Gimenes também foi voluntário do Cursinho da Poli. Aluno do CP em 2001, aos 19 anos, Rafa se interessou em participar voluntariamente da rádio interna do Cursinho já na primeira semana de aula. Entre uma programação e outra (que incluíam, além das músicas, dicas dos professores e notícias de vestibulares), ele aproveitava para estudar a apostila. Por gostar de comunicação, prestou a Fuvest para o curso de Audiovisual, sem sucesso. Ao fazer uma autoavaliação, Rafael percebeu que gostava da comunicação como um hobby e não como profissão; decidiu então prestar vestibular para Matemática em 2002. Porém, por uma questão de horários incompatíveis com o trabalho, Rafael não pôde voltar a ser aluno, e passou a estudar em casa com as apostilas do ano anterior. E estudou muito.

Foi nesse período, também, que ele comandou a oficina de rádio no CP. "Foi minha primeira experiência como professor", conta Rafael, que ainda se lembra do sufoco que passou na primeira aula da oficina: "Quando abrimos as inscrições, achei que viriam 10, 20 pessoas. Vieram 250 alunos! Olhei para aquele monte de gente e pensei: ‘Caramba, como vou fazer isso?’", diverte-se. Aprovado na USP em 2003, Rafael deixou o trabalho na Central de Cultura do CP para estagiar numa empresa de seguros por seis meses, mas não gostou do ambiente corporativo. Retornou ao Cursinho em 2004, no Plantão de Dúvidas, onde teve que aprender "na marra" a dar aulas, já que esporadicamente era necessário substituir algum professor ausente. "Foi quando me encontrei". Hoje, Rafa também é autor do material didático do CP e procura passar em suas aulas de Matemática uma importante lição que aprendeu no Cursinho da Poli: "Nunca imaginei estudar na USP, e o Cursinho me mostrou que era possível. E é isto o que eu aponto nas minhas aulas, conversando com os alunos: o Cursinho da Poli está aqui para ajudar, mas o resultado depende principalmente de nós mesmos".

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Redação: Leonardo Vinícius Jorge - Design: Brasil Multimídia
E-mail: cursinho@cursinhodapoli.org.br - Site: www.cursinhodapoli.org.br