Entrevista - Funcionários do CursinhoConheça os profissionais que ajudaram a fazer a história do Cursinho da Poli

O Cursinho da Poli tem anos de história. Vinte e um anos, mais precisamente. E quem melhor para falar sobre essa história do que os próprios funcionários que participaram de sua construção? O Vox deste mês entrevistou alguns dos profissionais que fizeram parte dos principais acontecimentos do Cursinho da Poli: Fabio Sato, diretor administrativo; Edson Futema, professor de biologia, autor do material didático e coordenador administrativo; Daniel Rizzo, responsável pelo departamento do sistema de ensino; Willians José de Souza e Carlos Eduardo Bueno, auxiliares de ensino; Luzia Kanashiro, coordenadora da produção de material; e Norival Francisco de Mendonça Neto, o Kiko, coordenador da segurança.

Em que ano vocês entraram no Cursinho da Poli e em qual função?

Sato - Entrei em 1998, participando como voluntário em atividades. Era diretor do Grêmio Politécnico e minha função era organizar festas, eventos e concursos.

Luzia Kanashiro e Fábio Sato Luzia Kanashiro, coordenadora da produção de material e Fábio Sato, diretor administrativo

A partir de 1999, participei ativamente dos estudos e da operacionalização da expansão do Cursinho da Poli. Em 2002, fui efetivado como diretor administrativo.

Daniel - Fui aluno do Cursinho em 1998, quando ainda era lá no Butantã, e, voluntariamente, comecei a ajudar um rapaz que organizava o Cineclube do CP. Em 1999, eu entrei na faculdade de História da USP e passei num concurso do banco Nossa Caixa, mas continuei ajudando o Cursinho. Quando o CP começou a programar a sua expansão, em 2000, me tornei oficialmente um funcionário do Cursinho e passei a coordenar a antiga Central de Cultura, então saí do banco. Muita gente me chama de louco, porque eu era concursado, mas eu não me arrependo, não. O que aprendi aqui, eu não teria em outro lugar, entende? Não teria chegado onde eu estou hoje. Em 2006, fui convidado a ir para o departamento de Sistema de Ensino.

Willians - Vim para o Cursinho no final de 1999 para fazer divulgação [entrega de folhetos]. Em 2000, já estava trabalhando como auxiliar de ensino.

Carlão - Eu também fiz divulgação, em 2000, e saí por uns problemas de saúde. Quando voltei, em 2001, o coordenador me convidou para trabalhar na Seção do Aluno. Passei para auxiliar de ensino em 2002.

Luzia - Entrei em 1999, para fazer um “bico” de digitação no Cursinho, e deu no que deu: estou aqui até hoje! Quando entrei, o CP estava em expansão, com a produção do material didático próprio e o salto de 800 para 8000 alunos.

Edson Futema
Edson Futema, professor de biologia, autor do material didático e coordenador administrativo

Futema - Entrei em fevereiro de 1992. Na época, o CP funcionava dentro da USP, e fiquei sabendo que havia uma seleção de professores para ampliar o quadro. Fiz o teste e me tornei o segundo professor de biologia do CP. Hoje, sou autor do material didático, coordenador administrativo do Cursinho da Poli e professor de biologia.

Kiko - Entrei no Cursinho para fazer um “bico” de quatro dias e, nisso, estou há mais de nove anos. Quando o CP veio aqui para a Lapa, me convidaram para fazer um serviço de segurança porque eu já conhecia o pessoal da diretoria do Cursinho desde o tempo da Usp. O serviço era organizar as filas, porque, na época, chegava a ter fila de 4 a 5 mil pessoas. E os quatro dias viraram mais de nove anos.

O que levou todos vocês a ficarem tanto tempo no Cursinho?
Daniel - O Cursinho nasceu como uma proposta de pessoas que queriam contribuir para melhorar a sociedade em que viviam, e acho que foi isso que fez com que eu me identificasse. Tinha muito mais a ver com o que eu queria, ou seja, que meu trabalho pudesse contribuir de alguma forma para melhorar a sociedade. Fui aluno em 1998 e, até então, nunca havia feito nada como voluntário ou colaborado em algum projeto que ajudasse a sociedade.

Futema - As oportunidades que o CP proporcionou: escrever o material didático, participar de atividades extras com os alunos, os passeios, as viagens, as sessões de filmes...

Kiko Kiko, coordenador da segurança

Kiko - Estou há tanto tempo que construí amizades, uma família, mesmo. Alunos do Cursinho que passavam dando bom-dia, boa-tarde, boa-noite são hoje amigos pessoais. Essa parte é gratificante.

Luzia - Eu vim para fazer digitação, jamais pensei que era um projeto social. Quando vi o projeto que era o Cursinho, me identifiquei muito.

Sato - Acreditar que é possível trabalhar e fazer alguma diferença, nem que seja mínima, para as pessoas com quem convivemos e para as quais trabalhamos.  Isso pode dar uma direção, que acredito ser melhor, ao longo e interminável processo de melhoria do ambiente em que estamos inseridos.

Qual acontecimento do Cursinho foi mais marcante para vocês?
Daniel - Com certeza foi a expansão do Cursinho, no início de 2000. O CP, que atendia 800 alunos, passou a atender 8 mil e, posteriormente, com o prédio 2, 15 mil.

Daniel Rizzo
Daniel Rizzo, responsável pelo departamento do sistema de ensino

Hoje existe toda essa estrutura, mas naquela época não tinha nenhum setor. A Central de Cultura surgiu do Cineclube, que era um trabalho voluntário de  um aluno. O Vestibulógico também surgiu da iniciativa de um ex-aluno, que fazia Psicologia na Usp e decidiu dar esse apoio na orientação dos cursos. O Serviço Social, a Seção de Alunos, a gente viu tudo isso nascer, por isso falo que quem chega hoje e vê tudo isso pronto nem imagina como foi construir tudo.

Sato - Sempre falo de um acontecimento, talvez por ter sido o primeiro que eu vi: conhecer uma mãe solteira. A partir daquele momento, tive um contato maior com realidades que eram, para mim, somente estatísticas e números. Isso é o que considero mais rico no Cursinho da Poli, principalmente enquanto projeto de extensão universitária.  Levar essa realidade a quem não teve a oportunidade de viver essas experiências é bastante importante.  Assim, quando estiverem em funções importantes no futuro, poderão lembrar-se das experiências vividas no Cursinho e considerá-las ao tomar algumas decisões dentro das empresas em que estiverem trabalhando.

Futema - Acho que foram vários momentos importantes. A recepção que me deram os alunos, quando voltei de um curso que fui fazer no Japão – pelo qual tive que deixá-los durante um período –, foi um deles. Outro evento marcante aconteceu em 2000, quando passamos de 800 para mais de 8 mil alunos. E, também, ver a primeira edição do material didático do Cursinho da Poli. Foi uma época difícil, trabalhamos quase 12 meses, com inúmeras noites maldormidas...

Ao longo desses anos, o que aprenderam com tudo o que viram no CP?
Sato - Aqui, tive contato com as mais diversas e ricas situações, desde organizar uma “simples” fila (de 1.000 pessoas, debaixo de chuva) até possibilitar a continuação dos estudos de jovens dos pontos mais distantes da cidade. Aprendi muito com cada uma das situações vivenciadas, e posso dizer que o principal aprendizado é que o processo educativo de todos nós não se dá apenas dentro da sala de aula. Todos aprendemos e somos educados em cada ação que fazemos.

Futema - O CP me ensinou o respeito pela humildade, me ensinou que todos compõem um todo. As dificuldades vêm e passam, mas é preciso encará-las e superá-las.

Luzia - Aprendi a encarar melhor a diversidade. Isso me abriu os olhos, porque a gente lê em livros, vê em jornais e ouve em palestras muita coisa sobre a diversidade, mas no Cursinho foi na prática. Há tanto preconceito social, sexual... E isso me abriu os olhos.

O que aprendeu com o Cursinho ao longo destes anos?
Daniel - Na Central de Cultura, tive contato direto com os alunos do Cursinho, contato com diferentes realidades. Essa diversidade de pessoas me fez entender um pouco melhor como é a realidade de cada um, principalmente de movimentos de setores de excluídos, que têm convênios com o CP. Acho que esse contato com diferentes realidades contribuiu para minha formação como pessoa, não apenas na questão profissional.

Kiko - Aprendi muita coisa nova aqui no Cursinho. O contato com pessoas de todas as classes sociais foi uma escola de vida, acho que vou carregar a vida inteira. Mudou minha maneira de ver o mundo.

Willians - Aprendi a lidar com o ser humano. Nosso trabalho é lidar com aluno, que um dia está nervoso, outro dia está calmo, no outro está triste, tem dia que está feliz... Todo dia tem uma história diferente. Por estarmos juntos o ano inteiro, nós participamos da vida de alguns alunos.

Willians José de Souza e Carlos Eduardo Bueno Willians José de Souza e Carlos Eduardo Bueno, auxiliares de ensino

Carlão - A gente tem essa liberdade de poder conversar, ajudar o aluno, e essa vivência é muito boa. No final do ano, ele vem agradecer a gente.

Willians - Essa é a parte mais gostosa. Muitos alunos chegaram a mim e disseram: você fez e faz parte da minha vida”.topo

Cursinho da Poli 20 Anos

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Redação: Leonardo Vinícius Jorge - Design: Brasil Multimídia
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